segunda-feira, 27 de maio de 2013

Revolução na produção de petróleo na América do Norte tem efeitos no mercado mundial


Em recente relatório sobre o mercado petrolífero global, a Agência Internacional de Energia (AIE) avalia que uma verdadeira revolução na cadeia de oferta energética vem ocorrendo pelo crescimento vertiginoso na produção de petróleo não convencional (extrapesado nos Estados Unidos e petróleo de areias betuminosas no Canadá). Nos últimos anos, muito se tem discutido a respeito do boom na produção de gás de xisto nos Estados Unidos, enquanto menos atenção tem sido dada à produção de petróleo não convencional naquele país, particularmente dado o sucesso nos avanços tecnológicos de produção nos estados de Dakota do Norte e Texas.
O relatório da AIE mostra como o crescimento da produção norte-americana e canadense já é bastante para abalar a cadeia produtiva da oferta do produto. Na medida em que os Estados Unidos passaram a ser exportadores do produto, o mercado tornou-se menos apertado, garantindo o suprimento no médio prazo e a estabilidade nos preços. Os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ainda ocupam um papel crucial na garantia da oferta, mas alguns países-membros vem atravessando período delicado, especialmente na África e no Oriente Médio, decorrente da instabilidade política.
Enquanto isso, o crescimento da oferta na América do Norte vem exigindo investimentos que, por si só, podem contribuir para a retomada do crescimento econômico nos Estados Unidos.  Com uma infraestrutura envelhecida, a América do Norte precisa modernizar-se neste setor, e a perspectiva é de que estes investimentos acelerem no médio prazo, garantindo o crescimento da produção norte-americana nos próximos cinco anos.
Outra transformação radical no cenário da oferta e demanda global do petróleo e o crescimento do consumo entre os países não membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE – o clube dos países ricos), ou seja, os países emergentes. Pela primeira vez, a demanda este ano por petróleo entre os países não membros ultrapassou a demanda pelos membros da OCDE. Ademais, o crescimento na capacidade de refino e armazenamento dos países emergentes está em vias de ultrapassar o domínio neste setor. Megarefinarias e novos armazenamentos, sobretudo na Ásia e África, estão próximos de superar os países até então dominantes no setor;  e provável que muitos países europeus tenham  que fechar suas refinarias pela concorrência mais eficiente dos países emergentes.
Estes dois fatores, somados, apontam para um mercado de petróleo relativamente estável nos próximos cinco anos. O crescimento da produção e exportação da América do Norte compensaria os potenciais problemas e gargalos de outras regiões produtoras, em especial os países-membros da OPEC, enquanto o contínuo crescimento do consumo entre os emergentes, onde a África é a grande surpresa, vai assegurar que, mesmo com a lenta recuperação econômica ocidental, o mercado de petróleo permaneça relativamente estável. 
O autor
Paulo Wrobel é economista, com mestrado em Ciência Política e doutorado em Relações Internacionais. Trabalha como pesquisador, analista e consultor, tendo se especializado em energia e geopolítica. Atualmente, é professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Fonte: NN - A Mídia do Petróleo

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