quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Entrevista David Lesar, CEO da Halliburton: “Minha meta é atingir 100% de conteúdo local


Bom dia leitores do portal, hoje divulgo aqui uma excelente entrevista do presidente da Halliburton falando sobre o mercado brasileiro, veja abaixo a entrevista completa.

O potencial do mercado brasileiro faz com que o presidente e CEO da Halliburton, David Lesar, considere o país como um caso à parte na indústria offshore. Em rápida passagem pelo Brasil, o executivo da gigante mundial de serviços, que opera em 80 países e tem mais de 63 mil funcionários, diz que os negócios da companhia são guiados hoje pelas oportunidades nas áreas de shale gas nos EUA e de águas profundas no Brasil. Lesar garante que a crise financeira americana não vai afetar os negócios no Brasil. “Se o preço do petróleo cair, isso sim impactaria não apenas os EUA, como os planos da Petrobras.”

Qual é a relevância do Brasil no mercado da Halliburton?

O Brasil está entre as dez maiores receitas da Halliburton no mundo. Também está entre os mercados que mais crescem. Estamos muito animados com as oportunidades que vemos no país com a Petrobras e outras operadoras nacionais e internacionais.



E qual é a participação do país no faturamento atual da companhia?

Não informamos números do Brasil isoladamente, mas posso dizer que é uma grande parte da operação da América Latina. No próximo ano o país será a maior operação da América Latina.

Quais são suas perspectivas quanto ao crescimento do mercado de perfuração no país?

Esse mercado está crescendo mais rápido no Brasil do que a média mundial. Não posso citar números específicos do país, mas é fato que está crescendo mais rápido que a média de nossos negócios.

Quanto?

Trinta por cento ao ano, neste momento.

Que serviços da empresa serão mais demandados?

Toda a nossa linha de produtos será demandada. No momento, a Petrobras e algumas companhias estão no ciclo de perfuração, e os serviços de perfuração e avaliação estão mais demandados. Quando a perfuração for concluída, serão os serviços de desenvolvimento. Atualmente são produtos da linha de perfuração, como perfilagem, fluidos e brocas. Depois serão os da linha de completação, estimulação, entre outros.

A projeção da Petrobras de perfurar 1.000 poços por ano é significativa para a Halliburton?

Sim, porque temos uma boa participação nas compras da Petrobras. Ela incentiva a concorrência, e não nos incomodamos em competir nesse mercado. Estamos muito animados com o plano de crescimento da Petrobras, que é muito voltado para o offshore, um mercado de alta tecnologia, no qual a logística é mais difícil e a qualidade e a confiabilidade dos serviços são essenciais. Tudo aquilo que a Petrobras e a indústria quiserem que façamos, nós oferecemos.

E o mercado onshore?

Há oportunidades no onshore, mas sempre haverá menos do que no offshore. Estamos fazendo mais trabalhos para a Petrobras e outras empresas no Amazonas. O onshore será sempre um adicional importante para o nosso negócio, mesmo que o offshore concentre as atividades no Brasil.

Qual o investimento previsto para o Brasil?

Não posso revelar cifras, mas estamos investindo consideravelmente em várias áreas. Uma delas é a contratação de jovens engenheiros e operadores brasileiros. Para mim, é o melhor investimento em conteúdo local que podemos fazer. Operamos em mais de 80 países, com 63 mil funcionários, e os brasileiros têm demonstrado um bom desempenho em sua carreira. Estamos investindo num centro de tecnologia aqui, trabalhando com a Petrobras e focando em certos itens de perfuração nas áreas de pré-sal e pós-sal. Também estamos trazendo muito capital para o país com novos equipamentos de pumping, logging, perfuração. Então, estamos investindo muito dinheiro aqui. O Brasil é um dos mercados mais importantes para a Halliburton, e acreditamos fortemente em seu potencial. A companhia tem uma boa liderança aqui, portanto, na minha visão, não cancelaremos os investimentos no Brasil. É um país no qual vejo a Halliburton investindo por muitos e muitos anos.
Como a empresa lida com as exigências de conteúdo local?
Não temos nenhum problema em alcançar os requerimentos de conteúdo local. Encontramos a indústria de químicos no Brasil muito estruturada para os produtos de que precisamos. Podemos adquirir o que necessitamos consumir aqui mesmo.

Há alguma meta de conteúdo local que a empresa gostaria de alcançar?

Minha meta seria 100%, porque, como disse antes, não temos problemas com contratação de pessoal no Brasil e também encontramos um setor industrial bem desenvolvido. Mas existem ferramentas e equipamentos que produzimos apenas em outros lugares, e devemos estudar a possibilidade de montá-los aqui. Estamos muito à frente de qualquer requisito, porque sempre acreditamos que a melhor gestão de negócios de uma empresa é a gestão estabelecida localmente, administrada por locais, com compra local e fornecimento local. Esse é o nosso modelo de negócios.

A companhia planeja aumentar o portfólio no Brasil?

Nosso portfólio já é relativamente completo. Só não estamos nos negócios de ESP (bomba elétrica submarina) e aquisição de dados sísmicos, mas temos a Landmark, que faz processamento e interpretação sísmica, e somos a maior empresa de completação para ambientes de alta pressão em águas profundas. Qualquer novidade que percebermos haver necessidade de atender, seja no pré-sal ou pós-sal, estará no foco do novo centro de tecnologia.

O que será feito no centro?

Provavelmente tecnologias relacionadas à perfuração para conseguir a maior taxa possível de penetração no reservatório, alcançá-lo o mais rápido possível e depois manter a posição dentro dele. Depois disso, precisamos achar uma metodologia de completação que permita conseguir o máximo do reservatório ao longo do tempo. Isso é consistente com o que a Petrobras quer fazer e com o estágio em que nosso desenvolvimento tecnológico está.

Como o centro será estruturado?

Será um amplo centro de pesquisa, com laboratórios, vários computadores e simuladores. A pesquisa será concentrada em linhas de produtos especiais para completação e perfuração, bem como para outras áreas. Também vamos pesquisar telemetria, sensores e outras tecnologias que aumentam a confiabilidade na perfuração. Perfurar no pré-sal é difícil. Trata-se de um reservatório complexo, que exige muito. Pode-se ter o melhor equipamento do mundo, a ferramenta mais tecnológica, mas se não consegue perfurar o reservatório, ou se o equipamento quebra, essas ferramentas e equipamentos não servem. Confiabilidade será outra área na qual nos concentraremos. Teremos invariavelmente de enfrentar o dilema entre tecnologia de ponta e a maior confiabilidade.

Qual o diferencial desse centro em relação a outros centros da Halliburton no mundo?

Possuímos centros na Arábia Saudita, Singapura, Índia e alguns nos EUA. Basicamente vamos fazer um subconjunto do que já fazemos em outros centros, e o foco inicial será nas tecnologias mais importantes para a Petrobras desenvolver para o pré-sal. Com o tempo, pela capacidade dos estudantes, seja na experiência em geologia, geofísica, telemetria, sensores e outras áreas, vejo o centro brasileiro se expandindo para servir ao mercado internacional. Se aparecer alguma necessidade tecnológica em outra parte do mundo e essa necessidade estiver relacionada com nossa capacidade aqui, não vejo problema em trazer esse projeto de pesquisa para cá, mesmo que ele não beneficie a Petrobras ou o país. Entretanto, fizemos um acordo com a Petrobras para primeiro servir às necessidades deles.

A crise americana pode afetar investimentos no Brasil?

Somente a crise econômica, não. Se o preço do petróleo cair, isso sim impactaria não apenas os EUA, como os planos da Petrobras. Se o barril cair para US$ 40 ou US$ 50 haverá um impacto nos nossos negócios, nos da Petrobras e, a essa altura, nos do Brasil também.

A América Latina vai crescer mais que os EUA?

Se o shale gás continuar tão demandante nos EUA, não. O que está guiando nossos negócios atualmente são dois pontos: águas profundas no Brasil e o shale gas, que começou nos EUA, mas hoje está na América do Sul, na Argentina, e se expandindo no México. Fora da América Latina, temos shale na China, Índia, Paquistão e Polônia. Praticamente em qualquer outro lugar você vê shale. Agora, se a pergunta é se o Brasil vai crescer mais do que os demais países, à exceção dos EUA, a resposta é sim. Mas os EUA continuarão crescendo com o shale.

O crescimento das NOCs afeta o negócio das companhias de serviços?

Na realidade, essa mudança tem maior impacto em nossa base de clientes tradicionais, as grandes IOCs, do que nas companhias de serviço, já que as NOCs contavam com as IOCs para prestar serviços que hoje nós prestamos. Nossa relação com as NOCs é boa e está se tornando uma grande parcela de nosso negócio. As NOCs usam mais nossos serviços porque, em alguns casos, não possuem capacidade de pesquisa ou processos tão desenvolvidos para as suas necessidades.

O raciocínio se aplica à Petrobras?

Não vejo a Petrobras como uma NOC tradicional. É uma empresa sofisticada, investe muito em pesquisa, tem bons profissionais, atua em várias partes do mundo, vem tendo grande sucesso no Brasil e atualmente é vista como líder em águas profundas e com enorme potencial de crescimento. É uma empresa que pode competir com uma IOC em qualquer parte do mundo.
Abaixo,  o presidente e CEO da Halliburton, David Lesar.

                                                Click Macaé

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