quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Óleo usado em setor elétrico é poluente e cancerígeno


O ascarel é o nome comercial de um óleo resultante de uma mistura de hidrocarbonetos derivados de petróleo, usado como fluido dielétrico, lubrificante e isolante em equipamentos elétricos, principalmente em transformadores e capacitores. Este tipo de óleo contém também, além de hidrocarbonetos, compostos chamados de bifenilas policloradas, ou PCBs. Estes são poluentes orgânicos persistentes, não biodegradáveis, altamente tóxicos e de ação corrosiva e inflamável, que causam efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde – são carcinogênicos e mutagênicos, podendo ainda causar danos irreversíveis ao sistema nervoso central. Além disso, também são solúveis em gorduras, o que facilita a sua chegada até os seres humanos, via ingestão de pescado, por exemplo.
A instalação de novos aparelhos que utilizem ascarel e a comercialização deste óleo foi proibida no Brasil em 1981, porém ainda existem muitos equipamentos abandonados contendo esse produto, especialmente em depósitos, garagens, subestações e edifícios industriais, servindo de estoque para eventual reposição, pois a lei, absurdamente, ainda permite o uso da substância por empresas que tenham equipamentos que a utilizem, durante a sua vida útil, que é de cerca de 40 anos. Assim, temos a presença por muitas décadas de possíveis fontes poluidoras contendo compostos reconhecidamente tóxicos e carcinogênicos.
Diversos exemplos recentes ilustram este problema: em 1996, uma subestação do metrô no bairro de Irajá, Rio de Janeiro, foi invadida e depredada por moradores locais, acarretando o vazamento de 400 litros de ascarel, provenientes de transformadores. Este vazamento provocou a intoxicação de nove moradores e a morte de uma criança, pois muitas pessoas usaram o óleo para fritura de alimentos. Em 2005, aproximadamente 11 mil litros de ascarel foram furtados de um prédio abandonado na zona portuária do Rio de Janeiro. A Polícia Federal na época indicou que o óleo pode ter sido comercializado no mercado negro para abastecer essas empresas que ainda possuem equipamentos à base de ascarel. E agora, em 2013, houve o vazamento de 12 mil litros desse óleo em Florianópolis, diretamente despejados no meio ambiente.
Embora testes realizados por uma equipe de pesquisadores USP tenham dado resultado negativo com relação à presença de PCBs neste último episódio – a hidrodinâmica local pode ter favorecido a dispersão das substâncias –, em outras regiões do Brasil a situação não é bem assim. Pesquisadores da PUC-Rio, por exemplo, verificaram níveis de PCBs acima do máximo permitido pela legislação, tanto brasileira quanto internacional, em três espécies de peixes (tainhas, corvinas e peixe espada) na Baía de Ilha Grande – um fator alarmante visto que estas e outras espécies de peixe são regularmente consumidas pela população da área de entorno.
Neste contexto, vemos que este é um problema extremamente preocupante, e que, como muitas coisas que acontecem em nosso país, poderia ser facilmente evitado, sancionando-se leis (lá nos idos da década de 80, quando já se sabia dos efeitos danosos destes compostos) proibindo, alem da comercialização, o uso de equipamentos contendo ascarel e derivados. Afinal, transformadores e capacitores elétricos valem a vida e a saúde de nossa população?
Rachel Ann Hauser Davis
Bióloga; Doutora em Química Analítica
UNICAMP - Instituto de Química
Grupo de Espectrometria, Preparo de Amostras e Mecanização - GEPAM 
Fonte: NN - A Mídia do Petróleo

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