quarta-feira, 16 de maio de 2012

Presidente da Shell critica metas do governo para conteúdo local no pré-sal


Representantes do setor de petróleo e gás se encontraram na tarde de ontem, terça-feira (15), no 24º Fórum Nacional, que acontece na sede do Banco Nacional para o Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), no Centro do Rio, para debater os principais desafios e a importância do incentivo à inovação tecnológica para o desenvolvimento do pré-sal.  

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, desde a descoberta das reservas do pré-sal, os investimentos no setor de petróleo passaram de US$ 14,5 bilhões em 2008 para US$ 22,3 bilhões neste ano. A projeção é de que os investimentos cheguem a US$ 33,8 bilhões em 2020. 

Com tamanho fluxo de capitais, algumas petrolíferas que operam no Brasil, como a anglo-holandesa Shell, questionam a exigência do governo de um percentual específico de conteúdo local na produção de bens e serviços no setor de petróleo. Atualmente, o governo impõe à Petrobras que 60% da cadeia produtiva da nova camada exploratória seja de conteúdo local e quer estender essa porcentagem. 

O presidente da Shell no Brasil, André Araujo, destacou a promoção do desenvolvimento de tecnologia e inovação como fator essencial para se atingir as metas para o crescimento da indústria nacional. Contudo, considerou que é preciso ‘paciência’ e que o processo se consolidará somente no longo prazo.

“A gente não pode achar que existe uma vara de mágica que vai transformar o país. Devemos ter a paciência e a transparência de olhar para trás e perceber o quanto se atingiu e o quanto a indústria se desenvolveu nos últimos cinco anos”, disse Araujo. “Há alguns anos, os planos de quinquenais da Petrobras não passavam de cerca de US$ 100 bilhões. Hoje, chegam a US$ 300 bilhões. É impressionante a quantidade de riqueza que está sendo trazida ao país e os grandes investimentos com o pré-sal”.

Em confronto com a opinião do governo, Araujo afirmou que deveria ser proposta uma política de incentivos, ao invés de penalização, às empresas que não cumpram as metas de conteúdo local estabelecidas. Ainda, disse que a Shell deseja comprar dos produtores locais, como forma de simplificar a logística de serviços.

“Ao invés de penalidades, poderiam ser dados incentivos e bônus. Queremos comprar de produtores locais porque é mais fácil e tira o foco de logística [de adquirir uma mercadoria fora do país]. Acreditamos que a indústria de bens e serviços possa se desenvolver e ser um supridor nosso no mundo.”, considerou Araujo. 

O executivo também destacou a experiência da Shell em áreas onde há reservas de óleo na camada pré-sal no Golfo do México, em Omã e na Holanda. Segundo Araujo, a melhor forma para desenvolver esses campos é por meio de parcerias. 

Representando a Petrobras - que recebeu do governo a operação de todos os campos do pré-sal - o gerente do setor de exploração e Produção da companhia, Osmond Coelho Junior, afirmou que a expectativa é de que as atuais reservas certificadas pela petrolífera, cerca de 15 bilhões de barris, devem dobrar para 30 bilhões de barris com as áreas do pré-sal que não tiveram comercialidade decretada.   

Inovação

Na defesa da inovação tecnológica, o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Glauco Arbix, avaliou que o aumento de investimentos em pesquisa e projetos inovadores podem possibilitar o crescimento do investimento agregado da economia.

Em sua palestra, Arbix destacou a mudança da percepção sobre o desenvolvimento da tecnologia e o crescimento da demanda por estudos e pesquisas para inovação. Ele citou o programa "O País", uma parceria com o BNDES, no qual a previsão era de R$ 500 milhões de investimento, mas foram recebidos R$ 14 bilhões de demanda de investimento, em cerca de 60 projetos, especialmente em setores energéticos, como o etanol. 

"Inovação e tecnologia eram tratadas como subproduto do crescimento, e não fundamental a ele. O investimento em inovação aumenta o investimento agregado na economia", ponderou Arbix. 

Para ele, o desafio é usar o investimento em inovação tecnológica para unir cadeias produtivas, como a exploração de petróleo no pré-sal. "Temos mercado interno, abundância de recursos e uma economia amigável à inovação. Nada contra as commodities e os produtos que temos, mas precisamos avançar nas áreas mais desenvolvidas para nos enquadrar em novas cadeias globais. Na área do pré-sal esta questão é chave", disse.


Fonte: Jornal do Brasil/Luciano Pádua

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