quarta-feira, 7 de março de 2012

Falta de experiência afeta Atlântico Sul

 As negociações que podem levar a coreana Samsung a assumir o controle do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, estão sendo motivadas por problemas de gestão no estaleiro, na avaliação de fontes próximas às negociações. O EAS enfrenta atrasos e baixa produtividade, o que pode comprometer ainda mais o cronograma de projetos da Petrobras. Só as encomendas de navios da Transpetro no EAS incluem 22 petroleiros que somam R$ 7 bilhões, dos quais cerca de 90% financiados pelo BNDES.


Da carteira de R$ 7 bilhões, 46% ou cerca de R$ 3,3 bilhões referem-se a compromissos assumidos pelo estaleiro junto ao BNDES. Além disso, o estaleiro entrou com recursos próprios equivalentes a 8% do projeto de construção dos navios. O banco financia outra parte do projeto diretamente à Transpetro. O EAS ganhou ainda o direito de construir sete sondas de perfuração encomendadas pela Petrobras à Sete Brasil. Qualquer mudança acionária, portanto, terá que ser aprovada pelo BNDES.

Fontes do setor dizem que a solução para os problemas do estaleiro passa por colocar no comando uma empresa com conhecimento na construção naval e offshore, como a Samsung.

Ontem, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu que conversa individualmente com os sócios do EAS, e que os acionistas estão buscando um novo modelo de negócios para se tornarem, nas palavras dela, "mais e mais eficientes". Na terça-feira, 28 de fevereiro, Graça esteve no EAS acompanhada de diretores da Petrobras e da empresa Sete Brasil, da qual a estatal é acionista.

Na ocasião, a comitiva se reuniu com representantes do estaleiro e dos sócios para discutir os atrasos nas obras, incluindo a construção da sete sondas de perfuração para águas ultraprofundas que serão usadas no pré-sal. Uma das propostas dos sócios, segundo fontes do setor, considerava fazer parte das sondas na Samsung, na Coreia. Mas Graça Foster teria rejeitado qualquer tentativa de construir as sondas fora do Brasil.

Também se reforçou a ideia de fazer as sondas no país com altos índices de conteúdo local. Na edição de ontem, o Valor informou que Graça Foster está negociando a troca do controle acionário do estaleiro com o aval da presidente da República, Dilma Rousseff. Uma dificuldade estaria no fato de Camargo Corrêa e Queiroz Galvão não estarem dispostas a saír do negócio amargando prejuízo.

À tarde, Graça afirmou que a Petrobras e a Sete Brasil se reúnem todos os dias para falar sobre as sondas contratadas. "Hoje já tive reunião a manhã inteira com a Sete Brasil", disse Graça. E acrescentou: "Tudo nos preocupa. Tudo que diz respeito à sonda, sonda de perfuração, unidade de produção no Brasil, no exterior, tudo preocupa. Tudo tem que ser bem administrado, muito bem acompanhado."

No mercado, a avaliação de executivos do setor é de que a situação do EAS é complexa. A Samsung teria sido "escanteada" pelos controladores que ergueram um estaleiro do zero com financiamentos repassados pelo BNDES em região que não tinha tradição de construção naval. O pioneirismo provocou dificuldades com mão de obra. "Ser um estaleiro virtual não é um problema. Problema é não fazer nada para deixar de ser virtual, aí é um problema real", disse Graça.

Desde 2011, comenta-se que a Samsung teria resistências para transferir tecnologia para o Brasil fazer sondas de perfuração. Mas essa resistência estaria ligada, segundo uma fonte, ao desejo da Samsung de fazer parte das sondas na Coreia depois que a crise econômica na Europa levou muitos armadores a cancelar encomendas. A busca de um novo controlador para o EAS começou em 2011 e outras empresas estrangeiras de construção de plataformas foram procuradas.

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Marta Nogueira | Do Rio

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